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Alma em formatação

A mim, foi dado o direito de levar, em duas malas de 32 quilos cada, tudo o que seria essencial nos próximos 365 dias. O desafio foi escolher, entre todo meu acúmulo material de 37 anos, o que não poderia ser deixado para trás. A outra prova a ser cumprida era selecionar quais as emoções e as experiências que levaria comigo e as que deixaria, definitivamente, para trás. Dentro do meu coração, também era preciso eleger as pessoas que me acompanhariam nessa jornada e das quais eu me despediria a partir de então.

Foi assim que me preparei para embarcar rumo à Barcelona, a cidade colorida pelas formas idílicas de Antoni Gaudí. Foi esse o destino que escolhi para me reencontrar. Não parti em movimento de fuga, ao contrário, assumi o desafio de me resgatar. Soa filosófico, mas, às vezes, é preciso se formatar, como um pen drive lotado que urge em se livrar de velhas informações para receber o que é novo.

Exatamente isso que decidi fazer quando pedi demissão de meu emprego de 16 anos; quando deixei o conforto da minha casa para morar em um estúdio com apenas uma cama, um fogão de duas bocas, frigobar e banheiro; quando disse "até logo" para quem sem preocupa verdadeiramente comigo para conviver com gente que sequer saberá pronunciar o meu nome nos meses que virão. Assumi o risco de tudo dar errado, mas também de tudo dar muito certo. Estou pagando, em euros, para ver.

Deixar Brasília foi uma opção desde que me foi tirado o plano que alimentei desde os meus 19 anos. Com essa idade, conheci meu primeiro namorado, o cara que se tornou meu marido. O mesmo de quem me despedi, há 2 anos e meio, depois de uma batalha perdida, de um ano e meio, contra um tumor de cérebro.

Foi a morte dele que me deu a chance de viver de forma bem diferente. Eu tinha duas escolhas: ou enlouquecia ou seguia em frente. Optei pelo segundo caminho. Mas na vida que planejei com ele, agora sem ele, já não me cabia mais. Decidi quer era preciso fazer novos planos, deixar para trás a dor da doença, arquivar as boas lembranças e me resetar.

É justamente esse o momento em que vivo. Como se eu tivesse me esvaziado completamente e deixado lugar para o recomeço. O processo dá medo. Ao liberar espaço na alma, você também a sente vazia e, nesse limbo, o risco é perder o equilíbrio. Como um boneco daqueles tipo "joão bobo", você precisa de uma base para não se esvair. Só assim, você consegue levar a porrada, ter forças para voltar e se manter de pé.

No meu caso, o meu esteio se apresenta na forma de minha família e de alguns poucos verdadeiros amigos. Sim, nesse processo de limpeza interna, tive que abrir mão de alguns que se diziam muito próximos. Nos tornamos estranhos. Talvez, eu a eles ou o contrário. Já não importa. Fato é que nossos caminhos já não se cruzavam mais e as despedidas são necessárias para dar licença a novos encontros. Abri mão das tentativas frustradas de me apaixonar novamente e de um trabalho que por anos foi a minha essência. Deixou de ser e eu precisava arrumar as malas para descobrir onde ela tinha ido parar.

Ao entrar no avião, há uma semana, rumo a um ano de experiências desconhecidas, meu estômago revolvia de ansiedade e pelo temor de que nada seja como pensei. Talvez realmente não seja, mas só saberei o fim desta história se assumir, de fato, o papel de protagonista do novo roteiro que tento escrever a partir de agora. É preciso ter coragem de recomeçar e confesso que é menos palatável do que imaginava. Mas quem disse que seria fácil?

De mochila pronta, estou ansiosa para meu primeiro dia de aula amanhã. Vou fazer um mestrado em criação literária e, por enquanto, é tudo que sei sobre o próximo ano. O resto, decidi compartilhar nesse blog. Quem quiser, que viaje comigo. Será um prazer ter a sua companhia.

Alma em formatação 2


DICAS DE COZINHA

DA SARA!

#1 

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#3

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