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Saudade: palavra que existe em qualquer língua

"Me prometa uma coisa? Sempre que a saudade apertar, se você não tiver ninguém, me chama!" Mais do que um pedido, a frase me soou como uma doce demonstração de solidariedade por parte de um amigo que vive na Austrália há pelo menos quatro anos. Como quem reconhece as peculiares necessidades emocionais que são despertadas pela distância da terra natal, desde que decidi deixar a minha casa, ele se preocupa com a falta que me fará a rotina no Brasil. Com medo de eu recuar nessa viagem, me estendeu sua mão, caso eu precise de uma para me segurar e me impedir de desistir.

Em quinze dias longe, posso dizer que sinto saudade de tudo e não sinto falta de nada. Explico: quando arrumei as malas para passar uma temporada na Catalunha, já tinha me despedido de gente, de coisas e de situações que não pertenciam mais aos meus novos planos. O que trouxe comigo foi uma saudade que independe de endereço ou de idioma: ela me acompanha em todos os lugares em que eu estiver.

Essa é a nostalgia que evitamos encarar quando o cotidiano nos é familiar: a saudade que deixa rombos na alma e que preenchemos com uma suposta lista de outras falsas ausências. Em terra sua, o dia e a noite são orquestrados por afazeres tão organizados, que nem nos damos conta de que tapamos esses buracos com amizades superficiais, trabalhos robotizados, falsos amores e escapes passageiros que o dinheiro pode comprar. Ainda bem! É questão de sobrevivência, aliás.

Mas tudo muda quando você deixa essa suposta segurança emocional para trás. De tudo, ficam os amigos verdadeiros e a família. Deles, você não sente a saudade que dói porque, com eles, você fala e compartilha todos os dias. Começa a fazer falta, literalmente, a moeda de troca com a qual você paga pelo prazer, capaz de amenizar certas dores. Fica o vazio quando se vão os amores que, na verdade, nunca existiram. Restam as dúvidas que não passavam de certezas disfarçadas. Sobra só você e o que vazio dentro de você.

Sozinha boa parte do tempo, minha cabeça se torna uma poderosa inimiga ao vagar, sem rumo, pelo tempo. E aí, sinto falta do que não vivi; do que tive, por um ou por alguns dias, e não terei mais. Faz-me falta o que idealizei e não virou realidade; o que não perdi porque nunca me pertenceu. Maldito pensamento que insiste em fugir do presente, pois a saudade só existe porque somos desajuízados o suficiente em sempre voltar ao que já foi.

Não sentimos saudades do que é real, pois ele estará sempre a nossa espera. E aí está a cilada: entretida pela ausência do irreal, você corre o risco de não desfrutar o que é de verdade. E cria falsas necessidades e, em vez de desbravar o que pode experimentar de novo, se apega a um passado que nunca foi conjugado em tempo presente.

A excitação de viver uma nova experiência no estrangeiro é intercalada, boa parte do tempo, por sentimentos que falam a sua língua, mas alguns adotam o sotaque de onde você decidiu aterrissar. Como você se sente, vai depender de como você é tratada pelos nativos; de quais os cenários você passa a fazer parte; de quais as paisagens você conhece e até da temperatura que acolhe seu corpo ao andar pela rua para reconhecer seus novos caminhos.

No mesmo dia, você é capaz de agradecer a euforia que sente pelo recomeço e reconhecer a sua própria sorte. Para, em seguida, chorar de desespero pelo incógnito e maldizer o medo que sente de que as coisas não saíam como o previsto. De que não haja escoras suficientes para não fazer falta as que foram derrubadas.

Talvez seja essa a definição da palavra "saudade", que só existe como vocábulo único em português, mas cuja tradução independe de idioma. Arriscaria a dizer, então, que saudade é a falta do conforto que só o já conhecido te proporciona. É sentir falta daquilo que você não tem medo de sentir porque já experimentou uma vez. Saudade poderia ser, assim, o medo de se entregar a tudo que pode realmente deixar saudade.


DICAS DE COZINHA

DA SARA!

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