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Quando quase morri pra ver Jesus nascer

Pela porta baixa e estreita passam, se muito, duas pessoas por vez. O resto da multidão permanece apinhada do lado de fora, esperando o caminhar lento da fila que leva ao interior da Igreja da Natividade, em Belém. No céu, não há uma nuvem sequer. O calor faz os corpos suarem. Enquanto escorre água pela testa dos fiéis, eles cantam e rezam. Alguém reclama e maldiz a falta de estrutura da igreja da Palestina onde, conta a História, nasceu Jesus Cristo.

Do lado de dentro da Basílica, construída no ano de 326 a mando de Helena, mãe do imperador romano Constantino, não há mais espaço. Gente vinda de todas as partes do mundo se empurra e se acotovela. O relógio se move lentamente a cada novo passo. Há quem se abane com o boné. Vale também um pedaço de papel firme para movimentar o ar.

Entre duas pessoas, não há um palmo de distância sequer. Um esposo com traços ocidentais faz endurece as feições quando um oriental encosta o corpo no da mulher dele. Para fotografar, é preciso levar as mãos para o alto. “Click.” Um turista faz pose no meio do aperto.

Misturado ao ar quente, há pó. As quatro filas de colunas de mármore em tom rosado estão sendo restauradas. Os especialistas trabalham atrás de lonas brancas que escondem parte da Igreja que teve ser reconstruída em 529, depois de ser destruída pelos samaritanos. Pelos buracos da lona, alguém espia a tarefa. Há quem levante a proteção e quem deixe registrado no plástico grosso, o próprio nome, a nacionalidade e a data na qual passou por ali.

O altar tem forma de octógono, símbolo das construções bizantinas. Ali rezam alguns cristãos. Entoam uma canção em idioma irreconhecível. O som é entrecortado por um guarda. “Psiu!”, pede silêncio. Em vão. O chiado de várias línguas persiste. “Psiu!”, tenta outra vez. Sem sucesso.

A fila segue morosa. Há quem desista e vá embora antes que a enorme porta de madeira, que fica dentro da basílica, se feche para encerrar o dia de visitação. Aí, não tem caminho de volta. Há que seguir. O empurra-empurra não dá trégua. Nem a falação. Uma senhora olha para trás e tenta conter, com gestos, o grupo de indianos que tenta avançar à força.

Ao lado deles, ortodoxos gregos chama atenção pela altura avantajada e pelo visual. Eles compartilham a mesma estética além da estatura. Têm os cabelos compridos e mantêm as barbas. Vestem túnicas pretas por cima das calças de mesma cor. No pescoço, está amarrado um lenço de tom fúcsia. Uma mulher aborda um deles e pede, em espanhol, uma foto. Levanta o pau de selfie e sorri. Ele também. “Click.”

“Psiu!”, pede mais uma vez o guarda. O silêncio não vem. “Pow!” Ouve-se o estrondo da porta de madeira que esconde, no piso abaixo, os restos do mosaico que decoravam a versão da igreja reconstruída pelos bizantinos. Um turista quer ver o que tem ali. O guarda se aproxima e fecha o alçapão.

A fila avança lentamente. Debaixo da nave da Basílica, está a gruta onde Maria deu à luz. Na entrada, a pequena multidão se espreme ainda mais. O portal em pedra exige que se abaixe a cabeça para passar. As paredes que ficam do lado de fora estão decoradas com pinturas que reproduzem Jesus e sua mãe em diversas ocasiões. “Não fotografem aquele quadro”, pede o guia. Não adianta e os flashes refletem na obra, de pintor anônimo, em que Maria carrega o filho no colo. “Click.” Na imagem, um sorri para o outro.

À medida que as pessoas entram na gruta, aumenta o alvoroço. Os rostos ganham expressões mais aflitas. Um senhor vende velas. As pessoas tentam alcançá-lo para garantir uma ou algumas. Finas ou grossas. Uma turista se enfurece com uma outra que força a passagem. Ela demonstra que vai desfalecer e conquista uns passos à frente.

Quando está diante do local em que teria nascido o Salvador, a loira de olhos muito claros se recompõe e faz fotos. “Click.” Registra no celular aquele pequeno espaço decorado por tecidos dourados. Ali, foi construída uma espécie de oratório. Abaixo dele, a estrela prateada no chão de mármore indicaria o local exato do nascimento. Nela, há a seguinte inscrição: Hic de Virgine Maria Jesus Christus Natus est. Para tocá-la, os turistas se ajoelham. Rezam. Querem mais uma foto. “Click”. Nasceu Jesus Cristo. Amém!

DICAS DE COZINHA

DA SARA!

#1 

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#2

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#3

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